A Magia do Ganga
Varanasi Travel Blog
› entry 10 of 23 › view all entries
Vimos o templo que se afunda no rio, passamos por outro pequeno templo (onde tive medo de comer a banana trazida do hotel, pela quantidade de macacos que havia) e depois percorremos as ruelas, que não tinham mais de 2m de largura. Numa esquina encontrávamos um “homem santo”, um pequeno templo, os miúdos que iam para a escola, desviámo-nos das vacas que passavam, e olhávamos indiscretamente para dentro das casas, onde ainda se passa a ferro com brasas feitas de “bosta de vaca”.
Chegados à rua principal, despedimo-nos (com a devida gorjeta) do nosso guia e continuámos pelas ruas cheias de gente, bicicletas, auto-riquexós (“tuc-tucs”), motas, vendedores de comida, vacas, macacos….O barulho das buzinas (“Horn, please” aparece escrito nos carros,) dos motores, o pó das ruas, a cor da roupa das mulheres (verde, amarelo, azul com flores bordadas a fio de “prata” ou “ouro”), as flores amarelas à venda para as preces no rio, os vegetais espalhados na banca do chão, o mercado do leite (e o cheiro a azedo), a vaca que dá o nome à loja e que nela vive, o dentista na rua com o ajudante que faz as placas, formam a paisagem das ruas de Varanasi.
Ao longo do rio é diferente, com as preces que continuam durante o dia e com as piras funerárias continuamente a arder. Espera-se para morrer numa casa, no “Manikarnika Ghat”, um dos dois ghat de cremação da cidade, onde “está a chama que nunca se apaga” e que serve para acender todas as piras, porque morrer em Varanasi é beneficiar de salvação imediata ou “moksha” (libertação do ciclo da reencarnação). Os mortos também esperam pela sua vez para serem purificados pelo fogo, embrulhados em panos, nas esteiras que serviram para os carregar, em ombros, por vezes ao longo de vários kms. Há que comprar a lenha e escolher a ghat em função da capacidade financeira (numa arde até ao fim, noutra apenas cerca de 30 min) e depois iniciar o ritual, ao qual as mulheres não assistem, porque, de acordo com o nosso “guia/barqueiro”, se costumavam atirar para a pira.
O acender da chama é acompanhado de preces e da vigia do responsável, encarregue de ajeitar a lenha e o corpo, que à medida que começa a arder se levanta (para libertar a alma) sendo depois abatido por uma pancada de pau.
O cheiro, as cinzas no ar, a morte “pública” apenas podem ser compreendidos se olharmos para o rio como uma deusa viva, com o poder de purificar todos os pecados terrenos.
Nessa noite assistimos novamente às preces mas desta vez numa varanda (Consumo mínimo de 50 rupias) ao lado de uma vacaria rapidamente transformada em plateia.
Foi a despedida do rio. Jantámos no hotel.
por Sandra Brito


















